• “Adianto aos leitores de meu blog, que ele deve ser lido pausadamente, é de que não conheço a arte de ser claro para quem não deseja ser atento."

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Vida é um Risco

A filosofia de Nietzsche é fantástica. Mas do que especulação é ação na vida do pensador. Vejo nos escritos de Nietzsche, mas do que pura especulação filosófica, uma espécie de autobiografia, como ele mesmo parece insinuar em sua obra Para Além do Bem e do Mal § 6 : “Aos poucos se evidenciou para mim o que toda grande filosofia foi até o momento: a autoconfissão do seu autor”. Nietzsche é, e não só sua filosofia, essa pluralidade.

Nietzsche valoriza a existência de posições contraditórias no homem como algo positivo, como uma condição mesma para seu futuro desenvolvimento. O pensamento Trágico de Nietzsche exclui a possibilidade de uma unidade final. A vida é múltipla e pluralista: prazer e dor, vida e morte. A compreensão trágica pode ser definida como a alegria do múltiplo, a alegria do plural. No canto ébrio de Assim falou Zaratustra ele escreve: “Nunca disseste sim a uma alegria? Ah, meus amigos, então já disseram sim a uma dor? Todas as coisas estão encadeadas, emaranhadas, ligadas pelo amor?”

A compreensão trágica da vida contém também um desafio ético: ela nos convida a permanentemente simbolizar , a destruir máscaras e a criá-las, consciente do seu caráter de máscaras. Essa concepção afirma a necessidade de aceitar o desafio de articular, em palavra e atos, aquilo que não é completamente articulável, propõe o fim de todo fundamento fixo. Somos chamados a criar algo novo, a reconhecer também o caráter contextual e diferenciado de todas as verdades e significados simbólicos que a realidade nos manifesta.

Também é assim nessa ótica plural que um dos conceitos mais complexos da obra de Nietzsche, a Vontade de Potência é compreendida e sentida. A Vontade de Potência significa a vida mesma, sem “identidades estáveis”. Em nossa experiência de mundo nunca nos defrontamos com algo que possa ser uno e idêntico. O ser é plural e contraditório. O “eu” é pluralidade de máscaras e impulsos. O indivíduo não tem um fundamento substancial, mas constitui-se a partir do jogo de diferentes impulsos e forças. Assim, a vida, enquanto pluralidade de energia e forças se direciona em todos os sentidos: ascendentes, descendentes, verticalmente e horizontalmente. Me encontro em meio as coisas perdidas?

Assim com a compreensão trágica da vida e a vontade de potência, o Eterno Retorno é diversidade, é um vir a ser, é devir. O tempo é para Nietzsche o que está determinado e que simultaneamente está em aberto, aquilo que foi decidido mas também aquilo que pode ser decidido, passado e futuro, necessidade e liberdade, duração e eternidade. O tempo é experimentado sem a segurança de uma estrutura fixa e absolutamente determinada, sem um “telos”, sem a historicidade linear. O conteúdo ético do Eterno Retorno repousa num círculo.

A eternidade é agora o tempo, o tempo é agora a eternidade. A doutrina do Eterno Retorno conduz a “uma experiência múltipla”, ela é uma hipótese, uma prova, uma experiencia do prazer de dizer “sim” diante de cada momento, é uma tentativa ética. A realidade permanece marcada pela diversidade e pluralidade. Todos os princípios opostos e contraditórios devem aí permanecer e mesmo se pressupõem.

Por fim, o “UBERMENSCH” é aquele que carrega a diversidade a pluralidade de várias máscara, é como o deus Dionísio. É o “homem ativo”, o ator que desempenha vários papéis, mas sobretudo, aquele que sabe desempenhar um papel e volta sempre mais uma vez a procurar outro papel sem permanecer fixado numa determinada interpretação. O “Ubermensch” quer afirmar o mundo nas suas contradições, ele se encontra se perdendo. Ele precisa afirmar a pluralidade.

Considerando os aspectos positivos desta filosofia podemos tomar proveito para dá significados a vida e principalmente para o grande risco que é a vida, pois para Nietzsche viver é correr riscos. Vamos nessa carreira!

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