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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Nicolau Maquiavel

Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções , porém , o maquiavelismo está associado a idéia de perfídia , a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma incólumes no tempo e no espaço, apenas alastrando-se da luta política para as desavenças do cotidiano." Assim , hoje em dia , na maioria das vezes, Maquiavel é mal interpretado. Maquiavel, ao escrever sua principal obra, O PRÍNCIPE, criou um "manual da política", que pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Talvez por isso sua frase mais famosa: -"Os fins justificam os meios"- seja tão mal interpretada. Mas para entender Maquiavel em seu real contexto, é necessário conhecer o período histórico em que viveu. É exatamente isso que vamos fazer. Painel histórico : Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana , o que explica boa parte das suas idéias. Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A tirania impera em pequenos principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise instabilidade permanente, onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de manter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituem o eixo da administração. Como o poder se funda exclusivamente em atos de força, é previsível e natural que pela força seja deslocado, deste para aquele senhor. Nem a religião nem a tradição, nem a vontade popular legitimaram e ele tem de contar exclusivamente com sua energia criadora. A ausência de um Estado central e a extrema multipolarização do poder criam um vazio, que as mais fortes individualidades têm capacidade para ocupar. Até 1494, graças aos esforços de Lourenço, o Magnífico, a península experimentou uma certa tranqüilidade. Entretanto, desse ano em diante, as coisas mudaram muito. A desordem e a instabilidade ficaram incontroláveis. Para piorar a situação, que já estava grave devido aos conflitos internos entre os principados, somaram-se as constantes e desestruturadoras invasões dos países próximos como a França e a Espanha. E foi nesse cenário conturbado, onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um período superior a dois meses, que Maquiavel passou a sua infância e adolescência.
Biobibliografia: Maquiavel nasceu em Florença em 3 de maio de 1469, numa Itália "esplendorosa mas infeliz", segundo o historiador Garin. Sua família não mera aristocrática nem rica. Seu pai , advogado como um típico renascentista, era um estudioso das humanidades, tendo se empenhado em transmitir uma aprimorada educação clássica para seu filho. Maquiavel com 12 anos, já escrevia no melhor estilo e, em latim. Mas apesar do brilhantismo precoce, só em 1498, com 29 anos Maquiavel exerce seu primeiro cargo na vida pública. Foi nesse ano que Nicolau passou a ocupar a segunda chancelaria. Isso se deu após a deposição de Savonarola, acompanhado de todos os detentores de cargos importantes da república florentina. Nessa atividade, cumpriu uma série de missões, tanto fora da Itália como internamente, destacando-se sua diligência em instituir uma milícia nacional. Com a queda de soverine, em 1512, a dinastia Médici volta ao poder, desesperando Maquiavel, que é envolvido em uma conspiração, torturado e deportado. É permitido que se mude para São Cassiano, cidade pequena próxima de Florença, onde escreve sobre a Primeira década de Tito Lívio , mas interrompe esse trabalho para escrever sua obra prima: O Príncipe , segundo alguns , destinado a que se reabilitasse com os aristocratas, já que a obra era nada mais que um manual da política. Maquiavel viveu uma vida tranqüila em S. Cassiano. Pela manhã, ocupava-se com a administração da pequena propriedade onde está confinado. À tarde, jogava cartas numa hospedaria com pessoas simples do povoado. E à noite vestia roupas de cerimônia para conviver, através da leitura com pessoas ilustres do passado, fato que levou algumas pessoas a considerá-lo louco. A obra de Maquiavel é toda fundamentada em sua própria experiência, seja ela com os livros dos grandes escritores que o antecederam, ou sejam os anos como segundo chanceler, ou até mesmo a sua capacidade de olhar de fora e analisar o complicado governo do qual terminou fazendo parte. Enfim, em 1527, com a queda dos Médici e a restauração da república, Maquiavel que achava estarem findos os seus problemas, viu-se identificado por jovens republicanos como alguém que tinha ligações com os tiranos depostos. Então viu-se vencido. Esgotaram-se suas forças. Foi a gota d’água que estava faltando. A república considerou-o seu inimigo. Desgostoso, adoece e morre em junho. Mas nem depois de morto, Maquiavel terá descanso. Foi posto no Index pelo concílio de Trento, o que levou-o, desde então a ser objeto de excreção dos moralistas.
Separando a ética da política
Maquiavel faleceu sem ter visto realizados os ideais pelos quais se lutou durante toda a vida. A carreira pessoal nos negócios públicos tinha sido cortada pelo meio com o retorno dos Médici e, quando estes deixaram o poder, os cidadãos esqueceram-se dele, "um homem que a fortuna tinha feito capaz de discorrer apenas sobre assuntos de Estado". Também não chegou a ver a Itália forte e unificada. Deixou porém um valioso legado: o conjunto de idéias elaborado em cinco ou seis anos de meditação forçada pelo exílio. Talvez nem ele mesmo soubesse avaliar a importância desses pensamentos dentro do panorama mais amplo da história, pois " especulou sempre sobre os problemas mais imediatos que se apresentavam". Apesar disso, revolucionou a história das teorias políticas, constituindo-se um marco que modificou o fato das teorias do Estado e da sociedade não ultrapassarem os limites da especulação filosófica. O universo mental de Nicolau Maquiavel é completamente diverso. Em São Casciano, tem plena consciência de sua originalidade e trilha um novo caminho. Deliberadamente distancia-se dos " tratados sistemáticos da escolástica medieval" e, à semelhança dos renascentistas preocupados em fundar uma nova ciência física, rompe com o pensamento anterior, através da defesa do método da investigação empírica.
"Princípios maquiavelianos"
Maquiavel nunca chegou a escrever a sua frase mais famosa: "os fins justificam os meios". Mas com certeza ela é o melhor resumo para sua maneira de pensar. Seria praticamente impossível analisar num só trabalho , todo o pensamento de Nicolau Maquiavel , portanto, vamos analisá-lo baseados nessa máxima tão conhecida e tão diferentemente interpretada. Ao escrever O Príncipe, Maquiavel expressa nitidamente os seus sentimentos de desejo de ver uma Itália poderosa e unificada. Expressa também a necessidade ( não só dele mas de todo o povo Italiano ) de um monarca com pulso firme, determinado que fosse um legítimo rei e que defendesse seu povo sem escrúpulos e nem medir esforços. Em O Príncipe, Maquiavel faz uma referência elogiosa a César Bórgia, que após ter encontrado na recém conquistada Romanha , um lugar assolado por pilhagens , furtos e maldades de todo tipo, confia o poder a Dom Ramiro d'Orco. Este, por meio de uma tirania impiedosa e inflexível põe fim à anarquia e se faz detestado por toda parte. Para recuperar sua popularidade, só restava a Bórgia suprimir seu ministro. E um dia em plena praça , no meio de Cesena, mandou que o partissem ao meio. O povo por sua vez ficou , ao mesmo tempo, satisfeito e chocado. Para Maquiavel , um príncipe não deve medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou da trapaça, se o que estiver em jogo for a integridade nacional e o bem do seu povo. " sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna( oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se , que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia". Para Maquiavel, como renascentista que era, quase tudo que veio antes estava errado. Esse tudo deve incluir os pensamentos e as idéias de Aristóteles. Ao contrário deste, Maquiavel não acredita que a prudência seja o melhor caminho. Para ele, a coerência está contida na arte de governar. Maquiavel procura a prática. A execução fria das observações meticulosamente analisadas, feitas sobre o Estado, a sociedade. Maquiavel segue o espírito renascentista, inovador. Ele quer superar o medieval. Quer separar os interesses do Estado dos dogmas e interesses da igreja. Maquiavel não era o vilão que as pessoas pensam. Ele não era nem malvado. O termo maquiavélico tem sido constantemente ml interpretado. "Os fins justificam os meios" .Maquiavel , ao dizer essa frase, provavelmente não fazia idéia de quanta polêmica ela causaria. Ao dizer isso, Maquiavel não quis dizer que qualquer atitude é justificada dependendo do seu objetivo. Seria totalmente absurdo. O que Maquiavel quis dizer foi que os fins determinam os meios. É de acordo com o seu objetivo que você vai traçar os seus planos de como atingi-los. A contribuição de Nicolau Maquiavel para o mundo é imensa. Ensinou, através da sua obra , a vários políticos e governantes. Aliás, a obra de Maquiavel entrou para sempre não só na história, como na nossa vida cotidiana atual, já que é aplicável a todos os tempos. É possível perceber que "Maquiavel, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo". E é por isso que até hoje, e provavelmente para sempre, ele será reconhecido como um dos maiores pensadores da história do mundo.
Algumas máximas maquiavélianas: "Os fins justificam os meios" "Não se pode chamar de "valor" assassinar seus cidadãos, trair seus amigos, faltar a palavra dada, ser desapiedado, não ter religião. Essas atitudes podem levar à conquista de um império, mas não à glória" "Homens ofendem por medo ou por ódio" "Assegurar-se contra os inimigos, ganhar amigos, vencer por força ou por fraude, faze-se amar a e temer pelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, destruir os que podem ou devem causar dano, inovar com propostas novas as instituições antigas, ser severo e agradável, magnânimo e liberal, destruir a milícia infiel e criar uma nova, manter as amizades de reis e príncipes, de modo que lhe devam beneficiar com cortesia ou combater com respeito, não encontrará exemplos mais atuais do que as ações do duque." "Um príncipe sábio deve observar modos similares e nunca, em tempo de paz, ficar ocioso"" "...Pois o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que se arruíne entre tantos que não são bons." "... vindo a necessidade com os tempos adversos, não se tem tempo para fazer o mal, e o bem que se faz não traz benefícios, pois julga-se feito à força, e não traz reconhecimento." "Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos." "Pelo que se nota que os homens ou são aliciados ou aniquilados" I. Contextualização
1. Antiguidade Clássica 1.1 Gregos: idéia da sociedade natural: homem é ser poítico: realiza-se pela vida na "polis"-vida em sociedade; o homem é um animal político. Polis: componente social e político. Como por exemplo em Aristóteles. 1.1.1 Não há conceito de indivíduo: o cidadão grego representa a síntese do social e do político: concepção holística, perfeição física, moral e estética. 1.1.2 Perspctiva dinâmica: movimento cíclico de dois termos 1.1.3 Pensamento dualista: mundo das formas ideais vs mundo real (um pálido reflexo do mundo ideal) Em Platão e no platonismo. 1.2 Helênicos: mantém a idéia da sociabilidade natural, mas a referência já não é a polis, mas a sociedade. 1.2.1 Surge a concepção de indivíduo: homem como unidade distinta, dotada de valor próprio no seio da universalidade humana. 1.2.2 Idéia do individualismo helênico: diferente do conceito de individualismo possessivo do pensamento moderno 1.2.3 Individualismo associado ao universalismo 1.3 Cristianismo primitivo: individualismo e universalismo se compõem na realização do projeto telelógico: a construção do reino de Deus, a salvação do homem e da humanidade. 1.3.1 Homem: acentua-se a idéia das contradições; dualidade: humano vs divino; material vs espiritual; pecado vs graça
2. Pensamento Medieval 2.1 Dualismo das concepções cristãs: a Cidade dos Homens (autoridade política) e a Cidade de Deus (poder divino) 2.2 Autoridade política: instrumento de Deus para a promoção da justiça e do bem: o seu exercício é humano, mas a sua origem e a sua finalidade são divinos. 2.2.1 Construir o Reino de Deus na Terra 2.2.2 Conduzir à salvação, corrigindo, como castigo e remédio, a natureza decaída do homem 2.2.3 Instituir e fortalecer a fé e a moral cristã 2.3 Obediência: é obrigação civil de ordem divina. Soberanos também têm limites de poder. 2.3.1 Homem medieval: deve obedecer ao governo terreno até o limite do governo divido, através da idéias de jsutiça. Define-se, assim, a diferença entre um suserano e um tirano. 2.3.2 Suseranos também têm obrigações: seu poder não é ilimitado: são responsáveis perante Deus pela tarefa de instaurar o reinado da justiça e da piedade. 2.4 Justiça é o que distingue tiranos dos suseranos legítimos 2.4.1 Suserano medieval: é um juiz e não um legislador. 2.5 Justiça: definida pela lei 2.5.1 Lei: conjunto de cosstumes baseados no direito natural: inscritos pela fé no coração dos homens: consciência coletiva 2.6 Ordem medieval: holística, tem natureza moral e religiosa. O conceito que melhor a define é o de comunidade e não de sociedade. 2.6.1 Fragmentação do poder: não há Estado nacional com poder centralizado, mas grandes constelações de poderes locais autônomos, articulados em redes de suserania e vassalagem 2.6.2 Sociedade hierárquica: papéis sociais são definidos por origem 2.6.3 Estamentos: códigos distinos de direitos e deveres: relações contratuais: contratos comunitários que obrigam mutuamente cada categoria social conforme o seu estatuto específico
3. Sociedade de Maquiavel (1469-1527) 3.1 Cristandade em decadência: conflitos entre o poder divino (Igreja) e o poder temporal (Estado) 3.2 Processo de ascensão do capitalismo: mercantilismo 3.3 Desenvolvimento do Estado Nacional: soberanos locais são absorvidos pelo fortalecimento das monarquias e pela crescente centralização das instituições políticas (cortes de justiça, burocracias e exércitos) 3.4 Estado absoluto: preserva a ordem de privilégios aristocráticos (mantendo sob controle as populações rurais), incorpora a burguesia e subordina o proletariado incipiente 3.4.1 Inglaterra e França: consolidam poder central 3.4.2 Itália não realiza unificação nacional: é um conglomerado de pequenas cidades- estado rivais, disputados pelo Papa, Alemanha, França e Espanha.
4. Concepção de homem em Maquiavel 4.1 Racionalidade instrumental: busca o êxito, sem se importar com valores éticos 4.4.1 Cálculo de custo/benefício: teme o castigo 4.2 Natureza humana: 4.2.1 Homem possui capacidades: força, astúcia e coragem 4.2.2 Homem é vil, mas é capaz de atos de virtude 4.2.3 Mas não se trata da virtude cristã 4.2.4 Não incorpora a idéia da socidabilidade natural dos antigos 4.3 O homem não muda: não incorpora o dogma do pecado original: natureza decaída que pode se regenerar pela salvação divina.
5. Concepção da História em Maquiavel 5.1 Perspectiva cíclica, pessimista, de inspiração platônica 5.1.1 Tudo se degenera, se sucede e se repete fatalmente 5.1.2 Todo princípio corrompe-se e degenera-se 5.1.3 Isto só pode ser corrigido por acidente externo (fortuna) ou por sabedoria intrínseca (virtu) 5.2 Não manifesta perspectiva teleológicaà humanidade não tem um objetivo a ser atingido 5.2.1 A política não admite a teleologia cristã: o caminho da salvação, a construção do Reino de Deus entre os homens. 5.2.2 Também não pensa a história sob a perspectiva dos modernos: não menciona a ideía do progresso à estrutura cíclica
6. Concepção de Política em Maquiavel 6.1 Política: pela primeira vez é mostrada como esfera autônoma da vida social 6.1.1 Não é pensada a partir da ética nem da religião: rompe com os antigos e com os cristãos 6.1.2 Não é pensada no contexto da filosofia: passa a ser campo de estudo independente 6.2 Vida política: tem regras e dinâmica independtes de consideraçõs privadas, morais, filosóficas ou religiosas 6.2.1 Política: é a esfera do poder por excelência 6.2.2 Política: é a atividade constitutiva da existência coletiva: tem prioridade sobre todas as demais esferas 6.2.3 Política é a forma de conciliar a natureza humana com a marcha inevitável da história: envolve fortuna e virtu. 6.3 Fortuna: contingência própria das coisas políticas: não é manifestação de Deus ou Providência Divina 6.3.1 Há no mundo, a todo momento, igual massa de bem e de mal: do seu jogo resultam os eventos (e a sorte) 6.4 Virtu: qualidades como a força de caráter, a coragem militar, a habilidade no cálculo, a astúcia, a inflexibilidade no trato dos adversários 6.4.1 Pode desafiar e mudar a fortuna: papel do homem na história
7. Concepção de Estado em Maquiavel 7.1 Não define Estado: infere-se que percebe o Estado como poder central soberano que se exerce com exclusividade e plenitude sobre as questões internas externa de uma coletividade 7.2 Estado: está além do bem e do mal: o Estado é 7.2.1 Estado: regulariza as relações entre os homens: utiliza-os nos que eles têm de bom e os contém no que eles têm de mal 7.2.2 Sua única finalidade é a sua própria grandeza e prosperidade 7.2.3 Daí a idéia de "razão de Estado": existem motivos mais elevados que se sobrepôem a quaisquer outras considerações, inclusive à própria lei 7.2.4 Tanto na política interna quanto nas relações externas, o Estado é o fim: e os fins justificam os meios
8. "O Príncipe": não se destina aos governos legais ou constitucionais 8.1 Questão: como constituir e manter a Itália como um Estado livre, coeso e duradouro? Ou como adquirir e manter principados? 8.2 A tirania é uma resposta prática a um problema prático 8.3 "O Príncipe": não há considerações de direito, mas apenas de poder: são estratégias para lidar com criações de força 8.4 Teoria das relações públicas: cuidados com a imagem pública do governante 8.5 Teoria da cultura política: religião nacional, costumes e ethos social como instrumentos de fortalecimento do poder do governante 8.6 Teoria da administração pública: probidade administrativa, limites à tributação e respeito à propriedade privada 8.7 Teoria das relações internacionais: 8.7.1 Exércitos nacionais permanentes, em lugar de mercenários 8.7.2 Conquista, defesa externa e ordem interna 8.7.3 A guerra é a verdadeira profissão de todo governante e odiá-la só traz desvantagens.
II. O Príncipe
Em sua obra "O Príncipe", Nicolau Maquiavel mostra a sua procupação em analisar acontecimentos ocorridos ao longo da história, de modo a compará-los à atualidade de seu tempo "O Príncipe" consiste de um manual prático dado ao Príncipe Lorenzo de Médice como um presente, o qual envolve experiência e reflexões do autor. Maquiavel analisa a sociedade de maneira fria e calculista e não mede esforços quando trata de como obter e manter o poder. A obra é dividida em 26 capítulos, que podem ser agregados em cinco partes, a saber: *capítulo I a XI: análise dos diversos grupo de pricipados e meios de obtenção e manutenção destes; *capítulo XII a XIV: discussão da análise militar do Estado; *capítulo XV a XIX: estimativas sobre a conduta de um Príncipe; *capítulo XX a XXIII: conselhos de especial intersse ao Príncipe; *capítulo XXIV a XXVI: reflexão sobre a conjuntura da Itália à sua época Na primeira parte (cap.I a XI), Maquiavel mostra, através de claros exemplos, a importância do exército, a dominação completa do novo território através de sua estadia neste; a necesidade da eliminação do inimigo que no país dominado encontrava-se e como lidar com as leis pré-existentes à sua chegada; o consentimento da prática da violência e de crueldades, de modo a obter resultados satisfatórios, onde se encaixa perfeitamente seu tão famoso postulado de que "os fins justificam os meios" como os pontos mais importantes. Já na segunda (cap.XII ao XIV), reflete sobre os perigos e dificuldades que tem o Príncipe com suas tropas, compostas de forças auxiliares, mistas e nacionais, e destaca a importância da guerra para com o desenvolvimento do espírito partriótico e nacionalista que vem a unir os cidadãos de seu Estado, de forma a torná-lo forte. Do capítulo XV ao XIV, vê-se a necessidade de uma certa versatilidade que deve adotar o governante em relação ao seu modo de ser e de pensar a fim de que se adapte às circunstâncias momentâneas-"qualidades", em certas ocasiões, como afirma o autor, mostram-se não tão eficazes quanto "defeitos", que , nesse caso, tornam-se próprias virtudes; da temeridade dele perante a população à afeição, como medida de precaução à revolta popular, devendo o soberano apenas evitar o ódio; da utilização da força sobeposta à lei quanto disso dependeram condições mais favorárveis ao seu desempenho; e da sua boa imagem em face aos cidadãos e Estados estrangeiros, de modo a evitar possíveis conspirações. Em seguida, constata-se um questionamento das utilidade das fortalezas e outros meios em vistas fins de proteção do Príncipe; o modo em que encontrará mais serventia em pessoas que originalmente lhe apresentavam suspeitas em contrarpatida às primeiras que nele depositavam confiança; como deve agir para obter confiança e maior estima entre seus súditos; a importância da boa escolha de sesu ministros; e uma espécie de guia sobre o que fazer com os conselhos dados, estes, raramente úteis, quando se considera o interesse oculto de quem os dá. Na última parte, que abrange os três capítulos finais, Maquiavel foge de sua análise propriamente "maquiavélica" na forma de um apelo à família real, de modo que esta adote resoluções em favor da libertação da Itália, dominada então pelos bárbaros. Terminada a breve exposição dos principais temas abordados no livro "O Príncipe" aqui sintetizado, conclui-se ser tamanha a complexidade organizacional de um Estado, que se recorre a todo e qualquer meio, justo ou injusto, da república à tirania, par ter-se como consequência não um país justo no sentido próprio da palavra- ao menos não se julga, habitualmente, haver uma possibilidade de fazer-se justiça com relação a todos os integrantes de uma sociedade ou grupo de extensão considerável, já que os interesses são os mais variados-,mas estável, governável e próprio de orgulho por suas partes e, principalmente, de respeito perante aos demais países/nações, o que certamente propiciaria um meio sadio e mais tranquilo de viver-se, tanto ao Príncipe quanto aos seus seguidores. III. Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio "Discursos", como também é conhecida a referida obra, foi escrito por Maquiavel quatro anos após haver concluído "O Príncipe", o que justifica suas perceptíves semelhanças com o primeiro. No entanto, o que o distingue de "O Príncipe" é a análise detalhada da república, em que o autoro claramente se coloca em favor desta, a apontar suas principais características observadas no decorrer da história e modos de melhorá-la, ou de ao menos mantê-la. Assim, pode-se considerar Maquiavel como sendo, indubitavelmente, um pensador indutivo-utiliza-se de inúmeros exemplos históricos com o fim de sustentar suas afirmações. No entanto, seu propósito não é sempre impecavelmente atingido, mesmo porque a realidade não segue regras e é, portanto, muito mais complexa do que se pode teorizar. A obra é começada com a citação da origem das cidades, que podem estabelecer-se devido a um grupo de cidadãos juntar-se a visar maior segurança; a estrangeiros que querem assegurar o território conquistado, a estabelecer, ali, colônias; ou mesmo a fim de exaltar-se a glória do Príncipe. As repúblicas nascem com o surgimento das cidades e, assim, constituem três espécies, que são: a monarquia, aristocracia e despotismo. Três que podem evoluir para o despotismo, oligarquia e anarquia, respectivamente. É claro, neste ponto, o pessimismo de como a sociedade é vista por Maquiavel: é a dialética de dois termos, que trata da sucessão entre ascendência e decadência, a formar um ciclo vicioso. Maquiavel acredita, ainda, que todos princípios corrompem-se e degeneram-se, a ser possível ser corrigido somente via acidente externo (fortuna) ou por sabedoria intrínseca (virtu). A voltar-se às espécies de repúblicas, chega-se à conclusão de que a sua melhor forma seria o equilíbrio, dito como ser a "justa medida", segundo Aristóteles. Tal equilíbrio pode manter-se através das próprias discordâncias entre o povo e o Senado, já que estes, em conjunto, representam e lutam pelos interesses gerais do Estado. O Estado é, então, definido como o poder central soberano; é o monopólio do uso legítimo da força, como diria Weber. As leis são estabelecidas nas práticas virtuosas da sociedade e com o cuidado de não repetir o que não teve de êxito. Por isso, é dito que não há nada pior do que a deixar ser desrespeitada. Se isso ocorrer, tornar-se clara a falha do exercício do poder de quem a corrompe. Em contrapartida, em se tratando de Estado, tudo é válido, desde a violação de leis e costumes e tudo mais que for necessário para atingirem-se as consequências visadas: os fins justificam os meios. Nessa visão de poder do Estado, é clara a importância da religião, pois em nome dela são feitas valer muitas causas em favor do Estado. A religião é, sob a visão de Maquiavel, um instrumento político-é usada de modo a justificar interesses os mais peculiares e, também, como conforto à população, que anda sempre em busca de ideais, a estar disposta até mesmo a conceder sua vida em busca destes. O êxito de uma república, consoante o autor, pode ser estrategicamente obtido através da sucessão dos governantes. Se se intercalar os virtuosos com os fracos, o Estado poderá manter-se. Mas, se, diferentemente, dois ruins sucederem-se, ou apenas um, mas que seja duradouro, a ruina do Estado será inevitável, já que, desse modo, o segundo governo não poderá utilizar-se dos bons frutos do governo anterior. Destarte, cita a importância das república, já que nela os próprios cidadãos escolhem seus governantes, de modo a aumentar a chance de ter-se, consecutivamente, bons governos. Com relação à política de defesa, onde há pessoas e não um exército, é notada um clara incompetência por parte do soberano, pois é de sua exclusiva competência formar um exército próprio para a defesa da nação. É, também, de extrema importância saber-se a hora própria para instituir-se a ditadura, que, em ocasiões excepcionais, é necessária a fim de tomarem-se decisões rápidas, a dispensar, assim, consultar as tradicionais instituições do Estado. Constudo, ela deve-se instituir por período limitado, de modo a não se corromper e deve existir até quando o motivo o qual a fez precisar-se for eliminado. Após uma análise teórica e comparativa-em termos históricos-é colocada ainda a importância da fortuna, a qual tem contingência própria e o poder de mudar os fatos. Assim, o autor define o papel do homem na história: desafiá-la. Com base na teoria do equilíbrio, conclui-se, então, que o ideal é que se estabeleça um meio termo entre as formar de governo a serem adotadas, a observar-se que a combinação das já existentes pode mostrar-se muito mais eficiente. A forma que se é administrado um Estado deve adaptar-se ao seu contingente populacional, e não as pessoas às suas leis.

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