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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uma outra forma de ensinar a filosofia

Este artigo foi escrito por ocasião de minha participação em um grupo de estudos sobre filosofia para Crianças. Resultado de longas pesquisas e conteúdo veríficavel na prática! Tenha uma boa leitura!
Uma outra forma de ensinar a filosofia
É possível a criança e o adolescente filosofarem? Esta questão inquieta muitos filósofos e educadores. Aqui a filosofia não surge como uma transmissão de conhecimento, ainda menos o conhecimento próprio da filosofia. Apresentam-se novas metodologias de aprendizagem, nova relação entre aluno e educador. Surge uma nova maneira de olhar e conhecer a filosofia, numa perspectiva mais acessível, onde pessoas comuns podem filosofar. A Comunidade de Investigação e a Comunidade de Aprendizagem como parte da vida escolar. Uma abordagem em consonância com o Programa Educação para o Pensar. A questão da possibilidade de as crianças e os adolescentes filosofarem tem mais de dois mil e duzentos anos. Na tradição filosófica, somente homem adultos praticavam a filosofia, e ainda assim, nem todos os homens. Max Scheler, referenciando Platão, diz que “as massas nunca serão filosofas” (SCHELER, 1986:7). A filosofia, como ramo do conhecimento ocidental se desenvolveu historicamente influenciada por este preconceito. Não só surgiram restrições para filosofar, como se criaram barreiras para o acesso à filosofia. Max Scheler afirma ainda que a filosofia sempre pertenceu a uma elite que se reúne em torno de um pensador. Na atualidade, pode-se perceber que essas restrições diminuíram. Mas ainda existem pessoas que afirmam que a filosofia não é coisa simples, pois para se fazer filosofia no sentido acadêmico e profissional é preciso dominar um universo complexo e cheio de termos técnicos e conhecer as várias tradições e sistemas de pensamento. Porém a questão levantada no início se difere um pouco das alegações acerca da restrição da filosofia para os estudantes em geral. A proposta que desponta aqui é de as crianças filosofarem e ao invés de terem que primeiro aprender toda a cultura filosófica, como acontece nas academias. O período inicial da educação escolar é marcado por um encontro entre as crianças, onde elas colocam para si e seus colegas, questões no âmbito da investigação filosófica. É nesta fase da educação que surgem os “por quês”, os “como”, os “aonde”, etc. Na educação tradicional e na familiar, raramente são respondidas estas interrogações. O que acontece comumente, são apresentações de respostas prontas e que tiram a capacidade do desenvolvimento cognitivo. Com a inserção destas crianças nas comunidades de investigação, criadas estrategicamente pelo educador, há a possibilidade de se alimentar as dúvidas, que as impulsionará a desenvolver a pesquisa em busca de respostas, ainda que diferenciada em cada fase da formação, dando inicio ao pensamento intelectual. As comunidades de investigação, são aulas transformadas em encontros, “onde todos se voltam para a busca conjunta da construção de respostas às questões levantadas nas discussões feitas individualmente e em grupo. Nesta ação conjunta e dialógica, o dialogar investigativo significa, dentre outras coisas, conversar de forma organizada a respeito de assuntos que se apresentam, onde o educador possibilita, a participação de todos, através da discussão e da consideração de todas as opiniões e manifestações do pensamento de seus alunos” (WONSOVICZ, 2005, p.35). Há várias formas metodológicas para usar as comunidades de investigação, entre elas se destacam a formas lúdicas e interativas. Aprende-se mais facilmente brincando, de forma agradável e divertida, que simplesmente o professor repetindo o que um dia aprendeu. Abandona-se assim, a visão tradicional de pedagogia, onde o professor ensina e o aluno aprende. Aqui todos aprendem juntos, numa relação igualitária. É mister que o educador deve dominar completamente o objeto de análise, para subsidiar e conduzir a atividade rumo a compreensão de todos. É preciso que fique claro que o programa de Filosofia com Crianças e Adolescentes, não pretende ensinar toda a cultura filosófica aos estudantes, pois estes não estariam preparados para receber todo este conteúdo. O objetivo aqui é levar as crianças a refletir sobre as mesmas questões que inquietaram os filósofos ao longo da história. Conduzir e deixa-las pensar sobre o que é o Bem, o que é a felicidade, o que é a amizade, a liberdade, o amor, etc. Permitir que elas por si só descubram o que são estes conceitos axiológicos que fazem parte da vida cotidiana. Propiciar o desenvolvimento da consciência crítica, da idéia de diversidade, da compreensão de si e do mundo a volta delas. O programa Filosofia para Crianças, idealizado por Matheus Lipmam e criado na década de 1970 nos Estados Unidos (Nova Jersey), busca cultivar o raciocínio filosófico, o desenvolvimento da capacidade de pensar e julgar bem. Em outros termos, busca o desenvolvimento da capacidade de julgamento e a cultura de reflexão, mediante a discussão em sala de aula. Por isso, a filosofia para Lipmam, não é um fim em si mesma, mas um meio que permite o desenvolvimento de habilidades intelectuais e disposições para atingir seus objetivos. Com relação ao aspecto educacional do Programa Filosofia para Crianças e Adolescentes, dá-se a aprendizagem de certo número de meios que levam à reflexão como forma de fugir das frases feitas, ou da aprendizagem mecânica sem saber seu significado. Oferece apoio para que se façam escolhas e ajuda os alunos a saírem do senso comum, das opiniões incontroladas. O programa possibilita o desenvolvimento das habilidades cognitivas; o diálogo investigativo; o desenvolvimento do pensar e a construção cooperativa do conhecimento. Dessa forma, pode-se concluir que é possível crianças e adolescente filosofarem. Entretanto, este filosofar não é no sentido acadêmico e, sim uma reflexão acerca de si e da vida. Formando assim cidadãos críticos e conscientes da importância de seu papel no mundo. Ademais, uma iniciação filosófica bem alicerçada, dará base para usar da filosofia à vida toda, em todos os momentos da existência humana.

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