• “Adianto aos leitores de meu blog, que ele deve ser lido pausadamente, é de que não conheço a arte de ser claro para quem não deseja ser atento."

  • "Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando... Falei, muitas vezes, como um palhaço, mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria." Charles Chaplin

terça-feira, 2 de setembro de 2008

PEDRO ABELARDO

Filósofo francês, nascido em Le Pallet, perto de Nantes, na Bretanha. Foi discípulo de Roscelino (1045-1120), um dos principais defensores do nominalismo, com o qual estudou lógica. Posteriormente, foi discípulo de Guilherme de Champeaux (1070-1121), que seguia orientação contrária à de Roscelino, defendendo o realismo dos universais. Nesse sentido, a "querela dos universais" foi, desde cedo, um dos principais centros de interesse de Abelardo. Em relação a essa questão, manteve uma posição contrária aos seus dois mestres, conhecida como conceitualismo. Para ele, os universais são conceitos, "concepções do espírito", realidades mentais que dão significado aos termos gerais que designam propriedades de classes de objetos. Passa sua juventude viajando de escola em escola, decepcionado com a mediocridade dos mestres e divertindo-se em embaraçá-los. Terminado seus estudos, passa a lecionar em Melun, depois em Corbeil e, posteriormente, em Paris, instalando-se em Sainte-Geneviève, para ministrar aulas nas cadeiras de filosofia e teologia. Suas aulas tornam-se cada vez mais concorridas e alcançam um triunfo sem precedentes. Entre os alunos, encontra a jovem Heloísa, de grande beleza e atributos intelectuais, por quem Abelardo apaixonou-se perdidamente: "... nossa paixão não omite qualquer dos graus do amor e se orna de tudo aquilo que o amor pode inventar de raro." Essa paixão teve um preço alto, em razão do tio de Heloísa, cônego Fulbert, ser contrário. Têm um filho, Astrolábio, antes de se casarem secretamente em Paris. Fulbert sente-se ultrajado pela vergonha sofrida e faz uma série de ameaças contra o casal. Visando preservar a segurança de sua amada, Abelardo leva-a para a abadia de Argenteuil, onde ela deveria fazer profissão de fé. Fulbert e seus parentes, pensando que Abelardo tivesse abandonado Heloísa, contratam indivíduos que o atacam e o emasculam. Definitivamente separado de Heloísa, torna-se monge, ingressando na abadia de Saint-Denis. Considerado indesejável pelos outros monges, Abelardo retira-se para Maisoncelle, a fim de lecionar e, novamente, encontra grande número de alunos. Redige um livro sobre o problema da unidade e trindade divinas. Esse livro suscita violentas polêmicas por tocar num ponto delicado da Igreja. A posição de Abelardo é considerada herética e o concílio de Soissons (1121) condena a obra, obrigando-o a queimá-la (primeira condenação). Por volta de 1136, retorna a dar aulas em Paris, com o mesmo brilho anterior. Entretanto, trata os assuntos teológicos de maneira pouco ortodoxa e suscita violentas polêmicas, principalmente com Bernardo de Clairvaux. Submete os dogmas da fé católica à análise dialética da razão, aproximando-se perigosamente do que era considerado heresia. Como resultado dessa desavença, as obras de Abelardo são condenadas ao fogo, pelo concílio de Sens (1140), mediante decreto papal, e seus partidários são excomungados (segunda condenação). Escreve outras importantes obras: a Dialética; Ética ou Conhece-te a Ti Mesmo; as Glosas, onde discute Aristóteles, Porfírio e Boécio; a Teologia Cristã, na qual retoma o tema de sua obra condenada em Soissons; Sic et non ou Sim e Não, compilação sistemática de textos dos primeiros padres da Igreja, que manifestam perspectivas divergentes; História das Minhas Calamidades, composição de sua autobiografia; e Diálogo entre um Filósofo, um Judeu e um Cristão, obra inacabada. Manteve correspondência com Heloísa, escrevendo cartas que imortalizaram os dois amantes. É importante também a sua contribuição para as áreas de lógica e teoria da linguagem, sobretudo quanto à discussão da noção de significado. Abelardo foi um pensador que procurou abrir novos caminhos em todos os campos que abordou. Impetuoso e combativo, dialético brilhante e de poderoso espírito analítico, exerceu larga influência entre seus contemporâneos e antecipou, segundo vários de seus intérpretes, o racionalismo que iria irromper, com grande força, no início da Idade Moderna.

Nenhum comentário: